A bacia de drenagem do Rio Doce é uma das mais importantes do Brasil, fornecendo grande aporte de sedimento para a plataforma continental adjacente ao estado do Espírito Santo. Em novembro de 2015 o episódio do rompimento da barragem de rejeitos de minério na cidade de Mariana mudou a realidade desta relevante rede hidrográfica, pois cerca de 55 milhões de metros cúbicos de lama de rejeito foram despejados no Rio Doce, chegando posteriormente ao mar. Tendo em vista que este foi o pior desastre ambiental da história do país, torna-se de fundamental importância monitorar a região atingida. Sendo assim, diversas campanhas amostrais foram realizadas com intuito de verificar o impacto causado pelo desastre na região da plataforma continental adjacente ao Rio Doce. Neste trabalho foram abordadas as análises conduzidas no sedimento superficial, que incluem a granulometria e a densidade. A malha amostral inicial foi delimitada de forma a cobrir uma radial à foz do rio, sendo esta alterada (pontos amostrais adicionados) de acordo com o deslocamento da pluma de MPS. Para a análise comparativa dos dados foram utilizados como background estudos anteriores à chegada da lama de rejeitos. A granulometria foi realizada via peneiramento a úmido, que separou a fração de lama do conteúdo de areia. A lama foi analisada em granulômetro a laser (Malvern) para determinar o conteúdo de silte e argila. Junto a estes dados foram agregadas as análises de densidade, que permitiram verificar a sedimentação recente através da avaliação da compactação do sedimento e a presença de uma camada de fundo móvel, que indicam o impacto causado pelo rejeito de minério na região da plataforma. Com a análise dos dados de granulometria e densidade do sedimento superficial foi possível verificar um comportamento atípico, com a presença de concentrações elevadas da fração de argila, incluindo a presença de material coloidal. O desastre ocorreu em um momento de extrema seca na bacia do Rio Doce, ocasionando o aporte anormal de um volume extremamente alto de sedimento na plataforma, sendo inclusive, muito maior do que o aporte verificado para os eventos de fortes chuvas na bacia do rio no final do ano de 2013 e início de 2014. Uma vez na plataforma, o comportamento da lama de rejeito junto ao fundo variou principalmente em função da vazão e das correntes de fundo direcionadas pelo vento. A deposição preferencial do material ocorreu na região da plataforma interna junto à foz em direção ao sul da desembocadura. A ocorrência de deposição de argila em locais onde esta fração era incomum anteriormente indicou uma alteração significativa no padrão de deposição do sedimento. Também foi possível identificar que a deposição se manteve restrita até a isóbata de 30 m de profundidade.